sábado, 27 de dezembro de 2008

Foi necessário aprender um novo olhar para conseguir sorver toda a beleza desse lugar. Suas ruas de pedras, as pessoas que nunca passam por mim sem sorrir, a brisa morna que vem do mar, o azul intenso do céu, a espuma clara que se forma da eterna batalha (ou imensa paixão?) entre o mar e a encosta... tudo precisa ser visto com cuidado e fome, com suavidade e gana.
Todas as tardes caminho até a via marítima e permito que meu espírito desenhe seus sonhos e projetos, que detalhe os abraços que quer ganhar e as palavras que deseja ouvir. Nas mãos estendidas de Neptuno derramo minha lista de quereres para o próximo ano e confio que Venus saberá como me entregar de forma mágica cada desejo pedido.
Ainda não decidi se irei a Positano para a celebração do Ano Novo...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ainda não consigo expressar meu espanto com a eficiência que os italianos têm em encontrar bons lugares para comer. Parti de Besse-sur-Issole há três dias, à tarde, após abraços suaves entremeados por embrulhos contendo pães e antepastos vegetarianos, e uma garrafa de vinho para sobreviver à longa viagem, pois segundo Berthe, 'somente bebendo um bom vinho é possível suportar a fala de um italiano'.
O casal que me trouxe a Bácoli faz parte da estrita lista de amigos de uma quase-irmã brasileira que hoje vive na Itália; juntos fomos de carro até Hyeres e de lá pegamos o avião para Napoli, de onde seguimos para a casa dessa querida amiga.
Contrariando Berthe, os italianos se mostraram excelentes companheiros de viagem, com um faro impecável para escolher restaurantes. (Talvez eu deva voltar a caminhar com regularidade... ou esse período em Bácoli me fará comprar roupas novas.) Suas histórias, a forma como partilham seu entusiasmo pela vida, o carinho que demonstram um pelo outro após tantos anos de convívio - estão casados há 34 anos -, fizeram com que eu me sentisse em casa, menina tomando café da manhã com minha família.
A chegada a Bácoli foi emocionante. Rever minha amiga, sentir meu coração pulsar diante daquele mar tão desejado, ouvir os sons da cidade, perceber o ar aderindo ao meu rosto... meu peito foi se tornando pequeno e precisei abrir espaço em mim através das lágrimas que deixei cair.
Estou feliz. Com sono e saudade...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Considerando os olhares que ganhei ao voltar para o centro do vilarejo, sair dançando entre infindáveis fileiras de gérberas pode se tornar algo desconfortável se o que você quer é passar uma imagem de intelectual em busca de inspiração para seu novo livro. Entretanto, se o seu único compromisso é com a diversão, aconselho que o faça. Mesmo! A música era perfeita, as nuvens que encobriam o Sol quase imploravam por algo imprevisível e as flores... era possível ouví-las dizendo: "Dance. Dance!" Eu nunca recuso pedidos especiais...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Tenho alma peregrina. Gosto de partir quando todos estão olhando em outra direção, quando dormem ou pensam que me têm. Não é uma busca que me faz ir embora. E pra falar a verdade, não sinto que estou indo... em meu peito, não há partidas, apenas chegadas. Breves e leves chegadas. O que me motiva a querer chegar em novos lugares é a paixão que sinto pelo mundo, pelo vento, por ver noites através de janelas novas. Mas se permaneço, quando permaneço, é por amor. Por olhos que me mostram um infinito impossível de ser encontrado em qualquer outro lugar...
Pela manhã, acordei ao som da voz suave e rouca de Berthe que, como seu nome indica, é a personificação da deusa da fertilidade. Mãe de seis filhos, criou essa romântica pousada onde estou hospedada logo após o nascimento de seu primeiro menino - hoje, o belíssimo gerente que nos recebe com um sorriso que faria qualquer mulher (e alguns homens) chorar no caso da pousada já estar com todos os quartos ocupados. Serena e despreocupada, Berthe acena pra mim quando me avista na janela do quarto. Pergunto a ela se pode me ensinar a cantiga de roda que estava cantarolando minutos antes e ela, que parece nunca ter conhecido a timidez, me chama para brincar no jardim. Sem nem pensar em recusar seu convite, atiro-me no primeiro vestido que encontro e corro até ela. Agora, cansada por tanto rir (e ainda um pouco zonza...), aguardo Eudine avisar que o almoço está pronto.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Há um pequeno bistrô na esquina da pousada, o aroma que transpira de suas panelas me atinge como flechas apaixonadas de um Eros sem ocupação, que insiste em me perturbar enquanto guardo minhas roupas no armário de madeira clara. Um delicado bouquet de lavanda repousa sobre o travesseiro... Tomo banho, troco de roupa, visto a echarpe que ganhei do violinista de olhos negros. Penso no que irei fazer para seduzir o proprietário do bistrô e ganhar sua permissão para conhecer sua cozinha e cada segredo que envolve aquele cheiro que me conduz para uma das mesas do salão iluminado por candeeiros e decorado com flores amarelas.

Faltam duas luas... até lá, serei deliciosamente obrigada a conversar com as senhoras que me ensinaram o caminho da pousada, encantadoramente forçada a fazer novos amigos e a beber vinho branco na varanda do meu quarto enquanto assisto a tarde se despedir das casas de pedra do vilarejo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sem normas, sem varais e sem espelho retrovisor. O destino é o que menos importa, pois o que gosto, são dos passos. E gosto de companhia, de música, de vento bagunçando os cabelos e levando para longe as palavras que derramo enquanto caminho. Toda chuva é bem vinda, todo frio é agradecido e o calor, sempre aceito.